21 de junho de 2011

Sem titulo

“Não vai a lugar nenhum, eu estou preso em um escuro sem grades. É um infinito muito escuro e desgastante. E foi o amor quem me presenteou.”

É dessa prisão feita de amor desgastado, maléfico e inebriante que brota o silêncio. O vazio, o escuro de noite sem lua, de verso sem letra, música sem ritmo, paixão sem corpo. Tudo muito perdido a dois passos, entregue a um destino sonhador em que a esperança dá seus últimos pedidos em vida. Um testamento triste, triste, detalhes de uma vida corrida, de um tempo tempestuoso onde nada consegue ser livre, onde a voz se prende à garganta, onde os pássaros caem antes de alçar vôo. Amor falecido, amor maltratado, amor renascido - dá no mesmo. Tem a ver com calos e trabalho pesado para se manter sobrevivente, à base de água e sal, desilusão, desencontros, descaminhos e um resto de paz trazida pelo imenso vazio. Foi disso que brotou o meu silêncio. Eu fiquei pendurado num relógio e o ponteiro não tem forças para subir. Sem ajuda, sem força, eu tento voltar, e sentir, expor, escrever e viver, voar cada pedaço das linhas antigas. Mas acabou. A vela queimou. O dia caiu. A porta fechou. Como é que se faz pra ser o que eu fui? E se o que eu fui nunca gostou de mim? Como é que dá pra buscar novos mundos se estou entre correntes, encubado, escondido, meio quieto, meio fumaça, meio baque, meio morto? O raio não vem. O galo não canta. O vento não empurra as cortinas. Quem há de dizer que os motivos existem? Quem há de dizer que não fui corajoso a ponto de suportar o desapego, a enfermidade e o escudo pesado e partido? Se eu me perdi no tempo, acho que tudo que eu plantei, secou. E a vida me deixou. Assim como tudo que escrevi e senti.
— Suspira, pois ela volta aos poucos. Mesmo que engatinhando e tropeçando.
— Entendo.
Eu cheguei a pensar que, da mesma forma como desencontrei, eu encontraria o que eu havia perdido. Numa calçada ou nos olhos de alguém, no sorriso da criança ou na cheiro da chuva, mas nada voltou. Nem mesmo a voz doce que incendiava minha alma. Sonhar virou sonho. Soa estranho, eu sei. Mas é a cara que imagino quando penso na realidade. Fogem os encantos e as magias. Perdem-se as bebidas deliciosas, os personagens confidentes e as estradas surpreendentes. O rosto do concreto. Eu só queria ser volátil, escapar de tudo aquilo que me impede de inflar, descobrir outros vapores, fugir da minha casa, abrir a gaveta, destampar as panelas. Sentir o cheiro de coisa velha e perceber que o novo ainda me espera pra poder chegar. Eu deixei recados nos espelhos e correspondências fechadas, deixei motivos pra voltar. E caminhando, torto e desguiado, no ritmo do sem-querer-eu-tenho-medo, eu sinto que a vida é assim: cheia das incertezas e dos silêncios no escuro. Muito minha, muito nossa e muito própria.

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